domingo, 25 de junho de 2023

Journal d’un curé de campagne de Robert Bresson

 


Título em português: O Diário de um Pároco de Aldeia

Realizador: Robert Bresson

Ano: 1951

País: França

Argumentista: Robert Bresson

            segundo o romance homónimo de Georges Bernanos (a última edição em português de “Diário de um Pároco de Aldeia” é das Edições Paulinas, numa tradução de João Gaspar Simões)

Fotografia: Léonce-Henri Burel com a assistência de Robert Julliard

Elenco principal: Claude Laydu, Adrien Borel, Nicole Ladmiral, Rachel Berendt, Jean Riveyre, Nicole Maurey

Duração: 1 hora e 57 minutos

Embora narre a vida de um modesto padre de aldeia, o filme não é realmente sobre a religião como tal, mas sim sobre a luta entre o bem e o mal.

O padre, persuadido a pregar o bem, só enfrenta desconfiança, hostilidade e calúnia: as crianças da catequese zombam dele, os paroquianos abandonam a igreja e ficam de pé atrás diante deste padre muito jovem que parece um alcoólatra. Já os “senhores”, depois de uma abordagem bastante favorável, rapidamente o consideram um original. O único apoio real do religioso, mas em última análise em vão, é do padre mais velho (Adrien Borel) da aldeia vizinha de Torcy. Este, tão bom homem quanto autoritário, representa ao mesmo tempo um modelo profissional, mas também o inverso, isto é, tudo o que o jovem padre não quer ser.

A “mise-en-scène” de Robert Bresson assenta num tom mais radical do que as palavras de Bernanos: seca e austera, baseada em cenas curtas, deixa paradoxalmente a impressão de que o tempo está congelado. A estação não muda, as árvores estão descarnadas, há lama constante. A voz off (a do padre) que cita trechos do diário, parece razoável, ao mesmo tempo em que dá uma importância exagerada à acção do religioso no seu meio.

Por fim, o filme retrata o percurso de um falso mártir, que, perante a indiferença quase total dos outros, só viverá uma vida de infortúnios, solidão e privações.

Recusando o pitoresco, Robert Bresson, com a sua “mise-en-scène” sem concessões, mais ainda do que nos seus filmes precedentes, criou uma escrita cinematográfica difícil, mas fascinante.

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quinta-feira, 22 de junho de 2023

Trois couleurs: Bleu de Krzysztof Kieslowski

 

Título em Portugal: Três Cores: Azul

Realizador: Krzysztof Kieslowski

Ano: 1993

País: França

Argumentista: Krzysztof Piesiewicz, Krzysztof Kieslowski, com a colaboração de Agnieszka Holland, Edward Zebrowski e Slawomir Idziak

Fotografia: Slawomir Idziak

Elenco principal: Juliette Binoche, Benoît Régent, Florence Pernel, Yann Trégouët, Emmanuelle Riva, Charlotte Véry

Duração: 1 hora e 40 minutos

Com esta história que desenha o percurso de um renascimento, Krzysztof Kieslowski assina um dos mais belos filmes sobre o luto, de uma graça dolorosa, e uma magnífica reflexão sobre a memória e a liberdade. Filósofo, moralista, poeta simbolista, o realizador polaco procede por pequenas cenas, por pequenos toques, por vezes misteriosos, bem delineados, graças a uma montagem toda em quebras de ritmo e pontuadas por explosões de música (soberba), que parecem brotar do mais profundo da alma do personagem principal. Esta personagem, Julie, vai da feroz negação do passado à sua transcendência, do retraimento à abertura. Não há liberdade sem memória (como a mãe de Julie, portadora do mal de Alzheimer, que permanece enclausurada na sua instituição, como prisioneira de si mesma), não há liberdade pessoal sem a aceitação e compreensão da liberdade dos outros.

Quelquesfilms.fr


Subarnarekha de Ritwik Ghatak

 


Título em francês: La Rivière Subarnarekha

Realizador: Ritwik Ghatak

Ano: 1965

País: União Indiana

Argumento: Ritwik Ghatak

            segundo um romance de Radheyshyam Jhunjhunwala

Fotografia: Dilipranjan Mukherjee

Elenco principal: Abhi Bhattacharya, Madhabi Mukherjee, Satindra Bhattacharya, Bijan Bhattacharya

Duração: 2 horas e 19 minutos

Considerado o melhor cineasta independente do cinema clássico indiano, e também o maior representante do cinema social na Índia, Ritwik Ghatak viveu sempre ignorado e o seu cinema nunca teve sucesso. Mas os seus filmes, vistos hoje, são únicos, pessoais, comprometidos, excessivos, tristes, ousados, arrojados, cultos, populares, políticos, emotivos, profundos e incómodos... um cineasta que merece ser reivindicado e apreciado. Tudo isto pode ser visto em “Subarnarekha”, considerado o seu segundo melhor filme e talvez o seu filme mais representativo. A temática social, o uso do melodrama, a visão marxista, a crítica social ao patriarcado, à acomodação burguesa, à sociedade de castas, o problema dos refugiados, o gosto pela música tradicional... tudo isto se reflecte no filme. Da mesma forma, a componente formal também aparece perfeitamente reflectida: enquadramento e iluminação elaborados, de um fascinante expressionismo-naturalista, uma montagem rica e criativa que aumenta a sensação de fragmentação, e um uso surpreendentemente criativo e sensível do som. É definitivamente um filme perfeito para descobrir o cinema de Ritwik Ghatak.

Raul Ruiz Serna


quarta-feira, 21 de junho de 2023

The Talented Mr. Ripley de Anthony Minghella


 

Título em português: O Talentoso Sr. Ripley

Realizador:  Anthony Minghella

Ano: 1999

País: Estados Unidos

Argumentista: Anthony Minghella

            segundo o romance “The Talented Mr. Ripley” de Patricia Highsmith (intitulado em português “O Talentoso Mr. Ripley, editado pela Relógio d’Água, com tradução de Mário Henrique Leiria)

Fotografia: John Seale

Elenco principal: Matt Damon, Gwyneth Paltrow, Jude Law, Cate Blanchett, Philip Seymour Hoffman, Jack Davenport

Duração: 2 horas e 19 minutos

 

“O Talentoso Sr. Ripley”, aproveitando a personagem criada por Patrícia Highsmith, é um habilidosíssimo estudo psicológico e, ao mesmo tempo, uma fascinante reflexão sobre o carácter sedutor do mal. Tom Ripley é um monstro…mas um monstro cativante ao ponto de sentirmos não só pena dele, mas também a desejarmos que ele se livre do seu destino trágico, feito de assassínios e duplicidades. A realização de Anthony Minghella, bem suportada na excelente fotografia de John Seale, e na sua magnífica encenação de uma Itália quente e cativante, faz deste filme uma memorável experiência cinematográfica. É também fundamental assinalar o excelente trabalho de interpretação de todo o elenco de actores, mas, muito em particular, de Matt Damon e a sua caracterização de uma personagem que constantemente vai, de forma sinuosa, saltando entre o angelical e o diabólico. 

Tabu de F. W. Murnau

Título em Portugal: Tabu Realizador: F. W. Murnau Ano: 1931 País: Estados Unidos Argumentista: F. W. Murnau e Robert J. Flaherty Fotografia...