quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

La Passion de Jeanne d’Arc de Carl Theodor Dreyer

 


Título em português: A Paixão de Joana d’Arc

Realizador: Carl Theodor Dreyer

Ano: 1928

País: França

Argumento: Carl Theodor Dreyer

            segundo o romance “Jeanne d’Arc” (1925) de Joseph Delteil

Fotografia: Rudolph Maté

Elenco principal: Renée Falconetti, Eugéne Silvain, André Berley, Maurice Schutz, Antonin Artaud

Duração: 1 hora e 54 minutos

 

Tendo em conta a data em que foi realizado, “La Passion de Jeanne d’Arc” situa-se no apogeu (e limite) do cinema mudo. Os longos textos [intertítulos] testemunham esta impaciência, e imagina-se este filme sonorizado, como os russos sonorizaram “Potemkine”. Em compensação, a composição das imagens, o rigor da montagem condensam todas as competências adquiridas com o cinema mudo e todas as suas possibilidades de expressão.» (Chris Merker)

 

Dreyer estava interessado na vida de Joana d'Arc desde a sua canonização em 1924. A sua ambição não era fazer um simples filme de época, embora tenha estudado a fundo os documentos relativos ao processo de reabilitação: queria "interpretar um hino ao triunfo da alma sobre a vida".

Necessitava de encontrar a atriz capaz de encarnar a mártir. (…). E foi Renée Falconetti, uma estrela do teatro de “boulevard”, que finalmente recaiu a sua escolha:

“Fui vê-la uma tarde e conversamos por uma ou duas horas. Eu tinha-a vistono teatro. Um pequeno teatro de “boulevard” cujo nome esqueci. Ela actuava numa comédia ligeira e estava muito elegante, um pouco vaporosa mas charmosa (...) Então eu disse-lhe que gostaria de fazer um ensaio fotográfico com ela no dia seguinte. “Mas sem maquiagem”, acrescentei: “com o rosto completamente nu”. Então ela chegou no dia seguinte, já disponível. Tirou a maquiagem e fizemos os testes, e encontrei no seu rosto exactamente o que procurava para a Joana D'Arc: uma mulher rústica, muito sincera e que também fosse uma mulher de sofrimento (p.127, 128).

Este rosto de dor tornou-se o próprio tema do filme, a superfície sobre a qual Dreyer poderia revelar a Paixão da Joana D'Arc histórica, mas também o verdadeiro rosto da humanidade sofredora. O entendimento entre o autor e a sua atriz foi perfeito, apesar dos sacrifícios que ela teve de aceitar (teve de rapar o cabelo, a intimidade que o seu rosto tinha de revelar), tal era a ideia elevada de que os dois artistas concebiam para o trabalho que queriam fazer, tão forte era a intuição que só se aproximariam da beleza mais intacta à custa da nudez mais crua.

A estilização dos enquadramentos bem demarcados, a abstracção dos cenários, reduzidos ao essencial e como que absorvidos pela nudez dos rostos, a força emocional da montagem, fazendo com que se sucedam os planos da vítima e os planos de seus algozes, tudo contribuiu para fazer deste filme único uma obra comovente. O uso muito sistemático de close-ups durante o julgamento de Jeanne, elemento determinante do estilo do filme, suscitou a admiração do público e depois o enorme sucesso crítico que o filme viria a alcançar:

“Joana D'Arc foi algo de importante para mim. Antes, eu nunca tinha feito um filme tão importante. Contudo, tive as mãos livres, fiz absolutamente o que queria e, na altura, fiquei muito satisfeito com o que tinha feito (...) Porque para mim é acima de tudo a técnica do processo-verbal que era determinante. Há partida existia esse processo com as suas vias próprias, com sua própria técnica, e é essa técnica que tentei transmitir no filme. Havia as perguntas  e havia as respostas, muito curtas, muito duras. Portanto, não havia outra solução senão colocar grandes planos atrás das réplicas. Cada pergunta, cada resposta exigia naturalmente um close-up. Era a única possibilidade. Tudo isso decorreu da técnica do processo-verbal. Além disso, o resultado dos close-ups era que o espectador recebia os mesmos choques que Jeanne recebia com as perguntas e como era torturada por elas. E, de facto, era realmente minha intenção obter este resultado.”

Cineclube de Caen

 


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