Título em português: Rocco e Seus Irmãos
Realizador: Luchino Visconti
Ano: 1960
País: Itália
Argumento: Suso Cecchi D’Amico, Pasquale Festa Campanile, Massimo Franciosa
e Enrico Medioli
com base num tema, elaborado por Suso
Cecchi D’Amico, Vasco Pratolini e Luchino Visconti, inspirado no livro de
contos de Giovanni Testori com o título “Il ponte della Ghisolfa”
Fotografia: Giuseppe Rotunno
Elenco principal: Alain Delon, Renato Salvatori, Katina Paxinou, Annie
Girardot, Claudia Cardinale
Duração: 2 horas e 50 minutos
Lançado em 1960, o
filme “Rocco e seus Irmãos” (Rocco e i suoi Fratelli)
conta a história – meio épica, meio fábula – de uma família de retirantes do
sul da Itália em busca de vida nova na moderna e industrial Milão.
Diante do embate entre
modernidade e tradicionalismo, Visconti mostra a decadência de uma família que
abandona a dura e faminta vida de uma sociedade virtuosa, o campo, para tentar
a sorte nas ilusões de uma sociedade corrompida, a cidade grande. As cenas
iniciais da família chegando à cidade, deslumbrada, cheia de perspectivas e
sonhos e ainda unida pela força dos laços de amor e sangue, demonstram tanta
ingenuidade que a trama nos leva à uma pitada da angústia que irá perpassar
todo o filme. Era bom demais para ser verdade…
Trazendo à tona a cena
moderna, Visconti constrói a narrativa de “Rocco e seus Irmãos” mostrando,
através da história dos Parondi, a degradação dos valores, o dilaceramento da
vida comum, a decadência da sociedade contemporânea. Decadência esta que, numa
só palavra e visão simplista, definiria não só o filme em questão como boa
parte da obra do director. A decadência de uma família como a de muitas outras.
A história de Rocco e seus irmãos como referência universal.
“Rocco e
seus Irmãos” não só é uma obra-prima do cinema como também uma crítica do
mundo moderno através das lentes de um cuidadoso director. Visconti, a partir
de sua visão de mundo e seu comprometimento político e filosófico, lança mão da
tragédia e da decadência de uma família para apresentar a sua visão, decadente
e trágica, da sociedade moderna. A essência da tragédia do filme é justamente o
choque entre a angústia humana, incorporada em Rocco e os seus, e a fatalidade
externa, assombrada pela modernidade capitalista.
O director passeia pela
cena moderna, mostrando suas contradições e provações, deixando o cenário,
subtilmente, interferir no quotidiano das pessoas. A cidade não pára um minuto.
Mesmo que o drama seja na vida de um ou outro, no turbilhão da modernidade,
este é apenas mais um drama, como o de milhares de pessoas. A vida parece
acabar para determinado personagem, mas o pano de fundo não deixa de lembrar
que “a vida continua”, independente do que possa acontecer na sua pobre e
mortal vida.
Isso tudo sem perder de
vista uma refinada e poética proposta estética, na qual o conteúdo, a mensagem,
pode deslizar de uma cena para outra sem perder a força ou sobrecarregar o
ritmo do filme. Com fotografia apurada e sequências deslumbrantes, Visconti
consegue produzir uma obra de arte engajada, unindo forma e conteúdo e
mantendo, ao mesmo tempo, o seu compromisso ideológico, político, estético e
filosófico.
(…)
Visconti era sui
generis no cinema italiano nos idos do “naturalismo” e “neo-realismo”,
deixando estes e outros “ismos” de lado para criar algo com sufixo mais
pessoal: “viscontiano”. Visconti “amava Verdi e o “melodrama”, como declarou
certa vez à maneira de epitáfio; paixão que ao lado de seus princípios
socialistas entranhou em toda a sua obra, no cinema e no teatro. Filho de
família nobre e aristocrata, o “conde vermelho” nada tinha a ver com o
sofrimento da família Parondi, a não ser o melodramático e operístico carácter
de seu pensamento acerca do mundo moderno e suas contradições.
Assistindo a “Rocco
e seus Irmãos” percebe-se que o director teve certamente liberdade
de criação (e recursos para isso) e pôde, como diria Godard, usar o cinema
como un outil de pensée, “um instrumento de pensamento”. Além de
expor o seu pensamento em relação ao mundo, o director buscou despertar na
plateia sentimentos que a levasse a pensar. Assim, não é de se estranhar que o
público não só criasse uma identificação com a família Parondi, como também que
se sentisse tocado, às vezes aliviado, às vezes indignado, com o triste e
trágico destino de Rocco e seus irmãos.
Blog Isso Compensa
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