sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Rocco e i suoi fratelli de Luchino Visconti

 


Título em português: Rocco e Seus Irmãos

Realizador: Luchino Visconti

Ano: 1960

País: Itália

Argumento: Suso Cecchi D’Amico, Pasquale Festa Campanile, Massimo Franciosa e Enrico Medioli

com base num tema, elaborado por Suso Cecchi D’Amico, Vasco Pratolini e Luchino Visconti, inspirado no livro de contos de Giovanni Testori com o título “Il ponte della Ghisolfa”  

Fotografia: Giuseppe Rotunno

Elenco principal: Alain Delon, Renato Salvatori, Katina Paxinou, Annie Girardot, Claudia Cardinale

Duração: 2 horas e 50 minutos

 

Lançado em 1960, o filme “Rocco e seus Irmãos (Rocco e i suoi Fratelli) conta a história – meio épica, meio fábula – de uma família de retirantes do sul da Itália em busca de vida nova na moderna e industrial Milão. 

Diante do embate entre modernidade e tradicionalismo, Visconti mostra a decadência de uma família que abandona a dura e faminta vida de uma sociedade virtuosa, o campo, para tentar a sorte nas ilusões de uma sociedade corrompida, a cidade grande. As cenas iniciais da família chegando à cidade, deslumbrada, cheia de perspectivas e sonhos e ainda unida pela força dos laços de amor e sangue, demonstram tanta ingenuidade que a trama nos leva à uma pitada da angústia que irá perpassar todo o filme. Era bom demais para ser verdade…

Trazendo à tona a cena moderna, Visconti constrói a narrativa de “Rocco e seus Irmãos” mostrando, através da história dos Parondi, a degradação dos valores, o dilaceramento da vida comum, a decadência da sociedade contemporânea. Decadência esta que, numa só palavra e visão simplista, definiria não só o filme em questão como boa parte da obra do director. A decadência de uma família como a de muitas outras. A história de Rocco e seus irmãos como referência universal.

 

Rocco e seus Irmãos” não só é uma obra-prima do cinema como também uma crítica do mundo moderno através das lentes de um cuidadoso director. Visconti, a partir de sua visão de mundo e seu comprometimento político e filosófico, lança mão da tragédia e da decadência de uma família para apresentar a sua visão, decadente e trágica, da sociedade moderna. A essência da tragédia do filme é justamente o choque entre a angústia humana, incorporada em Rocco e os seus, e a fatalidade externa, assombrada pela modernidade capitalista.

 

O director passeia pela cena moderna, mostrando suas contradições e provações, deixando o cenário, subtilmente, interferir no quotidiano das pessoas. A cidade não pára um minuto. Mesmo que o drama seja na vida de um ou outro, no turbilhão da modernidade, este é apenas mais um drama, como o de milhares de pessoas. A vida parece acabar para determinado personagem, mas o pano de fundo não deixa de lembrar que “a vida continua”, independente do que possa acontecer na sua pobre e mortal vida. 

 

Isso tudo sem perder de vista uma refinada e poética proposta estética, na qual o conteúdo, a mensagem, pode deslizar de uma cena para outra sem perder a força ou sobrecarregar o ritmo do filme. Com fotografia apurada e sequências deslumbrantes, Visconti consegue produzir uma obra de arte engajada, unindo forma e conteúdo e mantendo, ao mesmo tempo, o seu compromisso ideológico, político, estético e filosófico.

(…)

Visconti era sui generis no cinema italiano nos idos do “naturalismo” e “neo-realismo”, deixando estes e outros “ismos” de lado para criar algo com sufixo mais pessoal: “viscontiano”. Visconti “amava Verdi e o “melodrama”, como declarou certa vez à maneira de epitáfio; paixão que ao lado de seus princípios socialistas entranhou em toda a sua obra, no cinema e no teatro. Filho de família nobre e aristocrata, o “conde vermelho” nada tinha a ver com o sofrimento da família Parondi, a não ser o melodramático e operístico carácter de seu pensamento acerca do mundo moderno e suas contradições. 

 

Assistindo  a “Rocco e seus Irmãos percebe-se que o director teve certamente liberdade de criação (e recursos para isso) e pôde, como diria Godard, usar o cinema como un outil de pensée, “um instrumento de pensamento”. Além de expor o seu pensamento em relação ao mundo, o director buscou despertar na plateia sentimentos que a levasse a pensar. Assim, não é de se estranhar que o público não só criasse uma identificação com a família Parondi, como também que se sentisse tocado, às vezes aliviado, às vezes indignado, com o triste e trágico destino de Rocco e seus irmãos.

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